quarta-feira, 15 de abril de 2015



        ÁGUA  
Ando sem pé nem cabeça,

sou sangue, sêmen, saliva,

lágrima, leite, suor,

habito a matéria viva.

Sacio a sede dos homens,

sou dócil mas sinuosa,

escorro-lhes pelos dedos,

esparramada e gostosa.

Entre o banho, a pia, o tanque,

lambo, limpo, lavo, hábil,

no mar, piscina ou deserto

minha vida não é fácil.

Sou pedra, sou gás, sou nuvens,

caráter polivalente.

Líquida, lânguida, fresca,

doce, salgada, fervente.

Flores, frutos, fauna, flora,

se a vida resulta de mim,

então, por que cargas d’água,

jamais descubro a que vim?

Sendo espelho não me enxergo,

sequer meu nome conheço,

se perco oxigênio,

estagnada apodreço.

Tempestuosa e imprevista,

às vezes provoco danos.

Ambiguidade é comigo,

vivo entrando pelo cano.

Transcendendo a trabalheira

inda executo outra arte:

emito sons variegados,

música, modéstia à parte.

Nesta longa travessia,

tanto bato que até furo,

tendo passado e presente,

não sei se tenho futuro.

(Tânia Casella)

QUER VER SEU TEXTO AQUI?
Envie seu poema para: naosomospoetas@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário