Ando sem pé nem cabeça,
sou sangue, sêmen, saliva,
lágrima, leite, suor,
habito a matéria viva.
Sacio a sede dos homens,
sou dócil mas sinuosa,
escorro-lhes pelos dedos,
esparramada e gostosa.
Entre o banho, a pia, o tanque,
lambo, limpo, lavo, hábil,
no mar, piscina ou deserto
minha vida não é fácil.
Sou pedra, sou gás, sou nuvens,
caráter polivalente.
Líquida, lânguida, fresca,
doce, salgada, fervente.
Flores, frutos, fauna, flora,
se a vida resulta de mim,
então, por que cargas d’água,
jamais descubro a que vim?
Sendo espelho não me enxergo,
sequer meu nome conheço,
se perco oxigênio,
estagnada apodreço.
Tempestuosa e imprevista,
às vezes provoco danos.
Ambiguidade é comigo,
vivo entrando pelo cano.
Transcendendo a trabalheira
inda executo outra arte:
emito sons variegados,
música, modéstia à parte.
Nesta longa travessia,
tanto bato que até furo,
tendo passado e presente,
não sei se tenho futuro.
(Tânia Casella)
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